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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Troca

Abriu o portão do quintal. Foi para a vila. Não era uma vila muito grande. Tinha dez casas: 5 de um lado, 5 do outro. Seus colegas estavam brincando.
Danilo ficou só olhando. Estava triste como um dia nublado. Voltou pra casa, pegou algo e prendeu no short. Escondeu com a camisa e, novamente, estava na vila.
Os moleques rodavam pião com suas fieiras novinhas, presas nos dedos, vuum!
O pião era jogado e puxado com força. Zunia. Rodopiava.
Alguns enlaçavam o pião com a fieira e o faziam pular em sua mão. Outros tinham que se abaixar, abrir os dedos, palmas para cima e, roçando a costa da mão no chão, faziam o brinquedo subir e rodar na palma da mão.
Danilo continuava sério. Seus colegas o estranharam. Ele nada falou.
O moleque jogou o pião sobre o outro que estava na roda, riscada no chão. Quando acertava o debaixo, a gente podia continuava a jogar. Quando errava ia para a roda. A outra forma de brincar era acertar direto o pião dentro da roda: se acertasse levava o pião, se errasse perdia o pião.
Isso tudo Danilo sabia. Havia perdido um com fieira e tudo no dia anterior. Um pião é caro quando se vive longe da cidade, se tem 8 anos, não se conhece o pai e a avó só vai receber no fim do mês.
Sério, passou horas ali. Só olhando. Sem a menor chance.
- Aí, traz outro pião! Tá com medo, Mané?
- Sabe que eu sou fera, né moleque! – gritou Duda.
Danilo ficou calado.
A brincadeira continuou. Cada um mais bonito que o outro. Danilo chegou a reconhecer o que tinha sido seu. Estava meio cacarecado, mas era um bom pião.
Duda se abaixou. Ficou de costas. Danilo coçou a barriga e tocou no objeto que estava com ele. Segurou por alguns instantes. Alguns meninos começaram a correr quando ouviram uma trovoada.
O tempo mudou. A vila ficou deserta. Duda continuava abaixado. A chuva caia fina. Só os dois na vila.
Danilo tirou o objeto de dentro da camisa. Duda estava distraído com seu pião, alheio a tudo. Danilo tirou o objeto de dentro do short, tomou coragem e falou:
- Aí, vamos brincar de ferro?
- Legal, vamos.
O vento começou a soprar. A chuva pequena parou totalmente. Os meninos voltaram e começaram a brincar.
Ferro é uma brincadeira que cada um joga e finca no chão um espeto pesado, geralmente de ferro. Depois, vão riscando e marcando terreno para impedir que o outro avance.
Danilo ganhou o jogo. Voltou para casa com vários ferros.
À noite rezou para que chovesse até o dia do pagamento da avó ou que seus colegas aceitassem os ferros em troca de um pião.
Jurandi Alves Siqueira