Jorra líquido
Óleo da terra, do mar
Nossa riqueza
Vida de Moleque Tá com medo tabarel? É de linha de carretel! Feita pra ventos fracos ou para ventos fortes Venha me cortar, se tu tens sorte! Venha, vamos cruzar! Tá com medo? Vamos torar? Vem vento catinguelê Cachorro-do-mato quer me morder. Sou bom de bola e de rasteira. Rodo pião, planto bananeira Brinco de toda brincadeira, Mas a cafifa é a primeira. São várias as voadeiras: Cafifa ou pipa, papagaio, baratinha, Arraia, pião, morcego e cortadeira. E assim foi a minha infância inteira. O empinar uma pipa, botar cafifa no alto É coisa de criança travessa, Lá do morro ou do asfalto. | Soltar cafifa, É coisa séria e importante Você ligado por uma linha ao seu coração Tão distante. A pipa vai subindo. A linha você vai dando E a tal adrenalina, aos poucos aumentando É que há um misto de risco e prazer Na medida que ela, de vocêVai se distanciando. Cafifa cortada, pipa voada. O coração em desespero: É minha, peguei primeiro! Majestosa ela voa lá no céu. Bela, fascinante, cheia de linha! Me faz lembrar de uma época tão boa. A bela época, da infância minha. Tá com medo tabarel? É de linha de carretel! Vem vento catinguelê Cachorro-do-mato quer me morder |
O tempo me tomou muitas coisas... O corpo pequeno de menino O rosto alegre, sempre sorrindo e uma grande dose de ingenuidade. Encurtou roupas que eu gostava Apertou o patins que eu adorava Tornou pequena, minha bicicleta, antes tão grande. Desapareceu com os meus velhos professores Com os médicos de família Com meus primeiros amores. Tentou matar minh’alma de poeta Mas acabou, não sei como, sendo vencido. O tempo é indomável, implacável, mas também generoso | Emprestou-me, por algum tempo, um corpo maior, mais vigoroso. Acabou com cataporas, coqueluches e aquele medo horrível de ficar no escuro. Curou as feridas das quedas do patins. Transformou a ingenuidade em prudência. Diminuiu minha ansiedade Deu-me um pouco de paciência. É certo que nunca mais tive um cão igual Nem tenho hoje um país tão sério. Mas o tempo é assim mesmo... Tem seus mistérios. Jurandi Alves Siqueira |
A MALETA Lembro de quando criança Guardava numa maleta Sonho e esperança Que tinha na cabeça Arrastava-a com todo cuidado Parecia meu travesseiro Quando estava preocupado Ela sabia primeiro Não era assim tão nova Muito tinha viajado Suas marcas davam provas De quanto tinha andado Às vezes nas tardes chuvosas Em casa, tinha que ficar Ela sempre generosa Abria-se pra eu brincar Tirava cadernos e livros Bilhetes ali jogados Com irmãos ou amigos Brincava sossegado | Um dia sem me perguntar Dela tudo tiraram E quando fui procurar No lixo a tinham jogado Disseram que estava velha Uma mochila eu ia ganhar Escondido chorei por ela Que um dia me ensinou a pensar Pra onde ela foi eu não sei Só sei que o tempo corre Nunca esqueci o que sonhei Esperança, a última que morre. Jurandi Alves Siqueira |